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Depressão: a doença invisível que se torna cada dia mais comum

O Brasil, segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), é um dos países com mais pessoas depressivas do mundo. Conforme dados divulgados recentemente pela Pesquisa Vigitel 2021, 11,3% dos brasileiros receberam um diagnóstico médico para a depressão.

 

Mesmo em 2022, a depressão ainda causa muitas dúvidas, muitos debates e ainda muita dificuldade de aceitação por parte dos indivíduos afetados pela doença. Por ser um transtorno relacionado à saúde mental, ainda há muito preconceito por parte das pessoas que rodeiam outras pessoas que estão com sintomas da depressão.

Infelizmente, a depressão ainda é vista como um problema moral, falta de vontade, preguiça, drama, falta de pensamento positivo, de fé e de crença.

A TCC e o tratamento da depressão

 

A Terapia Cognitiva-Comportamental é um dos recursos mais eficientes para tratar a depressão, justamente por ter sido pensada por Aaron Beck, num primeiro momento, para gerar melhores resultados no tratamento da depressão.

 

Segundo Beck, a depressão surge a partir de uma vulnerabilidade cognitiva (percepção de ameaça, seja ela no pensamento, ou na intensidade de uma emoção), decorrente das experiências iniciais de vida, que resulta da formação de esquemas disfuncionais considerados negativistas, ou seja, padrões de percepções, sentimentos e ações que existem previamente dentro do indivíduo, alocados em sua memória, que não são funcionais para ele. Quando ativados esses esquemas negativistas, influenciam a interpretação e interação que o sujeito terá acerca dos eventos que o cercam.

 

De forma simplificada: o indivíduo teve interações na infância, que o fizeram aprender padrões (de percepção, de sentimentos e ações). Conforme ele se desenvolve e interage com situações que o remetem a uma situação ameaçadora, em relação ao que ele aprendeu no passado, ele vai ativar e reproduzir padrões que não são muitas vezes realistas, funcionais/adaptativos para ele. Na prática, ele passa a responder à ameaça, por isso evita as coisas, e não o que a situação pede/oferece a ele realisticamente.

Sintomas mais frequentes

 

A depressão gera sintomas motivacionais, como por exemplo a paralisia da vontade, desejos de fuga e evitação (ação de se esquivar de algo ou alguém). Estes sintomas podem ser explicados como consequências dos pensamentos e percepções negativas.

 

De acordo com Beck, a paralisia da vontade resulta do pessimismo e do desamparo do paciente. Se ele antevê um resultado negativo, não irá comprometer-se com um objetivo.

Em casos mais extremos, o paciente começa a sentir desejos suicidas, que podem ser compreendidos como uma expressão extrema do desejo de escapar daquilo que parecem ser problemas insolúveis. Nestes casos em que o suicídio é cogitado, a pessoa deprimida pode se ver como uma carga sem valor e, consequentemente, acreditar que todos, inclusive ela própria, se sentirão melhor quando estiver morta. Para ela, não há esperanças.

 

Para entender mais profundamente a depressão, é preciso compreender a forma como a TCC enxerga o modelo cognitivo que se aplica à doença e quais estratégias ela utiliza com estes pacientes.

 

O modelo cognitivo da depressão

 

De acordo com Beck, o modelo cognitivo postula três conceitos específicos para explicar a essência do funcionamento psicológico da depressão: a tríade cognitiva, esquemas disfuncionais e erros cognitivos ao processar as situações.

 

A tríade cognitiva consiste de três padrões cognitivos principais que induzem o paciente a encarar a si mesmo, seu futuro e suas experiências de uma forma idiossincrática (incomum ou até imprópria).

 

1) Visão negativista que o paciente tem de si mesmo: ele se percebe como defeituoso, inadequado, doente ou carente. Tende a atribuir suas experiências ruins a defeitos psicológicos, morais ou físicos existentes em si próprio. Ele pensa que, por causa de seus supostos defeitos, é indesejável e sem valor.

 

2) Tendência a interpretar suas experiências correntes de uma forma negativista: ela percebe o mundo como lhe fazendo solicitações absurdas e/ou colocando obstáculos insuperáveis ao atingimento de seus objetivos de vida. Interpreta mal suas interações com seu meio circundante.

 

3) Visão negativista do futuro: à medida que a pessoa deprimida faz projeções a longo prazo, antecipa que suas dificuldades ou sofrimentos presentes não terão fim. Prevê sofrimentos, frustrações, privações incessantes e falhas em qualquer atividade a que se proponha.

 

O modelo cognitivo vê os demais sinais e sintomas da síndrome depressiva como consciências da ativação dos padrões cognitivos negativistas. Por exemplo, se o paciente erroneamente pensa que está sendo rejeitado, reagirá com o mesmo afeto negativo (por exemplo, tristeza, raiva) que ocorre nele, apesar da rejeição real. Se acredita erroneamente que é um pária social, sente-se solitário.

 

A crescente dependência do sujeito com depressão também é explicada. Ele tende a buscar ajuda e segurança nos outros, a quem considera mais competentes e capazes, pois considera a si mesmo incapaz de realizar tarefas, independentemente de seu grau de dificuldade de realização.

 

Nessa mesma linha, é possível explicar os sintomas físicos da depressão, como a apatia e a baixa energia. Estes sintomas podem resultar da crença do paciente de estar “condenado” ao fracasso em todos os seus esforços, ou seja, um sentimento de inutilidade, que pode até levar a “inibições psicomotoras”.

 

Levando isso em conta, o terapeuta cognitivo vai trabalhar trazendo uma visão mais realista para o paciente acerca de seu funcionamento e trabalhará na capacitação e treinamento das habilidades do paciente até que ele volte a ter uma interação funcional com seus problemas e consiga atingir objetivos e vivenciar suas aspirações para o futuro.

Gabriela Di Modica Braga
CRP 06/139645
Psicoterapeuta e Supervisora
Especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental

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